quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Fúria (A criatura - Cap. 3)

Oee, faz um bom tempo que eu não posto nada aqui :P
Estou postando a terceira parte da criatura hoje! Um dos melhores textos meus até agora =) Boa leitura ^^


“Ela sentia a adrenalina preenchendo cada cantinho do seu corpo, não conseguia mais disfarçar a sede de sangue levemente estampada em sua face...”
A criatura viajava a tempos sem preocupações, sem receios, sem limites... Viajava a muito sem medo de se perder, pois não tinha rumo. Ela ia tranqüila seguindo trilhas, estradas, pelo contorno das praias; atravessava florestas, desertos, mares, grandes e pequenas cidades, fazendas e vilarejos, mas não se cansava, não ia cabisbaixa, ela ia contente só pela simples vontade de chegar a algum novo lugar.
Não fazia muito tempo que ela havia entrado naquela floresta, mas a floresta já dificultava sua caminhada de tão fechada que era a vegetação. As grandes árvores bloqueavam grande parte da luz do sol tornando-a uma floresta escura, os galhos e folhas secas no chão machucavam suas patas, fazendo-a observar cada passo atentamente, e os galhos das plantas medianas lhe arranhavam de vez em quando.
A criatura estava quase decidida a dar meia volta e seguir por outro caminho, daí ela ergueu a cabeça. A sua frente, numa pequena clareira, um enorme vulto se erguia. A principio a criatura não reconheceu o que era, e demorou a perceber que tinha quatro patas, daí as orelhas se ergueram e uma enorme cauda se moveu vagarosamente de um lado ao outro, os olhos se abriram num azul-piscina intenso, e então bocejou, deixando os enormes caninos amostra.
A criatura olhou curiosamente reparando nos traços canídeos do vulto, e surgiu a dúvida: Seria o vulto um da sua espécie? Não era tão parecido, a criatura tinha pelos avermelhados e uma estrutura óssea leve e aerodinâmica, com intensos olhos laranja, o vulto era corpulento, musculoso; mas ainda sim era difícil achar um canino diferente das espécies costumeiras do planeta terra numa floresta.
Se aquilo realmente fosse uma criatura, será que existiram outras por ai? A criatura estava crente de que era a única de sua espécie, pelo menos até agora. E apesar de tudo o vulto não parecia um animal, ao seu redor a luz parecia se propagar com menos intensidade deixando a claridade mais fraca, ao longo do seu corpo havia uma enorme sombra, como chamas negras dançando graciosamente, e a atmosfera ao redor daquela clareira era diferente, era leve, tranqüila, mas ao mesmo tempo parecia amedrontadora. O vulto se assemelhava mais a um espírito ou algo parecido do que um animal.
O vulto se distraía bobamente com as folhas que caíam, olhando assim parecia até um dócil animal doméstico, e aí uma borboleta passou a sua frente, seu olhar finalmente caiu sobre a criatura. Ele olhou melhor, e virou a cabeça parecendo analisar a criatura curiosamente.
E então se levantou, a criatura fez o mesmo. Ele olhou mais uma vez, deu de costas e saiu correndo, mas a criatura o seguiu. O vulto começou a ganhar velocidade, a criatura também começou a correr; e num piscar de olhos os dois estavam correndo numa velocidade incrível, abusando de cada gota de seus reflexos para desviar das árvores, respirando rápida e ofegantemente quase sem fôlego.
Eles continuaram correndo por um bom tempo e a criatura notou que o volume de árvores ia diminuindo gradativamente. A perseguição continuou até um enorme campo aberto no meio da floresta.
Era realmente muito grande, era gramado e ao invés de árvores, algumas flores cresciam em pontos que pareciam ser todos simétricos. O sol era intenso, mas não era escaldante, era gostoso, reconfortante combinado com brisas frescas que sopravam suavemente. O campo terminava bem à frente numa parede gigantesca de terra que se erguia até as nuvens, não como uma montanha, mas como um penhasco, e pela parede desciam varias cachoeiras que despencavam num pequeno riacho que cercava o campo aberto e se enraizava floresta adentro.
O campo era estonteantemente belo, mas o que se destacava dentre tudo ali era o seu centro. Havia uma enorme edificação. Ela tinha grandes entradas com rodapés dourados, não tinha janelas e estava bem gasta, faltavam vários pedaços na parede e as plantas que cobriam a estrutura revelavam-na bem velha. Tinha traços parecidos com astecas, mas se assemelhava a um pequeno coliseu.
O vulto parou e a criatura também, ele a fitou nos olhos e entrou devagar na estrutura, com a criatura seguindo-o. Eles andaram lentamente por um longo corredor até uma grande sala. Pelo que parecia era o salão principal, tinha o formato de um hexágono e vários desenhos nas paredes, o teto era abobadado com um grande pedaço faltando por onde entrava a luz do sol, que destacava um pequeno altar no meio do salão.
Ele foi até o centro e se postou na frente do altar, olhou para a criatura e a chamou com a cabeça, a criatura se aproximou lentamente e parou a poucos passos dele, ele indicou o altar, a criatura hesitou e foi cautelosa até subir no altar, então olhou ele nos olhos.
Foi muito rápido, quase imperceptível, ele mordeu a criatura em sua pata dianteira esquerda que tentou mordê-lo também, mas ele foi mais rápido e se afastou num salto. A criatura tentou avançar em sua direção, mas suas patas se prenderam ao altar, não havia nada a segurando, mas era como um imã, ela não conseguia sair dali.
O vulto correu até a parede atrás da criatura e esperou ela olhar, mas a criatura não ia olhar, ela tentava se livrar do altar desesperadamente, começava a ficar estressada. O vulto uivou baixinho tentando chamar sua atenção, ela tentava puxar as patas com muito esforço. O vulto começou a latir para a criatura olhar para ele, mas era tarde a criatura estava despertando sua fúria...
Ela olhou para o sol e uivou, um uivo alto, quase ensurdecedor, seus pelos se eriçaram, suas garras ficaram a mostra, os caninos dobraram de tamanho e os músculos cresceram a uma velocidade assustadora até ficarem um pouco maiores do que os do vulto. A criatura já não estava mais magricela e leve, estava enorme e pesada, seus olhos laranja mudaram gradualmente para um vermelho vinho gritante, suas pupilas dilataram o dobro de seu tamanho e suas orelhas ficaram em pé, a calda fofa se enrijeceu e os pelos se alinharam deixando-a fina como um chicote, não fosse pelo tufo na ponta que pendia como uma bola de ferro na ponta de uma clava.
O chão ao redor do altar começou a rachar e as pequenas pedras que se soltavam começaram a flutuar ao seu redor junto às folhas secas do chão. As trepadeiras agarradas na parede começaram a se soltar, forçadas em direção a criatura, o salão escureceu e começou a trovejar lá fora, o som da água caindo anunciou a chuva, mas a luz prateada que entrou pelo espaço aberto no teto revelou a lua, a criatura havia transformado o dia em noite.
Em volta da criatura uma aura vermelha surgiu, como fogo e semelhante a aura negra do vulto, os objetos que flutuavam começaram a bailar alinhados ao redor dela. A chuva que entrava pela abóbada formou uma poça, a criatura olhou e viu sua imagem e finalmente ela olhou para trás, para ver como ela se assemelhava ao vulto agora. Sem dúvida eram da mesma espécie.
Mesmo com todo seu poder ela não conseguia se soltar do altar, parecia uma armadilha feita especificamente para ela, então o vulto deu um uivo altíssimo, a criatura abaixou a cabeça tentando proteger os ouvidos, o sol voltou a brilhar, a chuva e os trovões pararam e as nuvens se dissiparam, as poças no chão se secaram instantaneamente, as rachaduras no chão se fecharam e os objetos que flutuavam no ar voltaram aos seus lugares juntamente com as plantas que voltavam a se instalar nas paredes como antes. A aura vermelha se apagou e a criatura diminuiu devagar, voltando a sua forma original, e só então a criatura voltou sua atenção para ele. Ele indicava a figura na parede e indicou as outras cinco na seqüência, elas narravam uma pequena história, mostravam varias criaturas andando em bando, depois elas enfurecidas, no seguinte elas matavam criaturas inocentes, depois mostravam um humano acalmando as criaturas, humanos e criaturas convivendo em harmonia, e na última parede mostravam um corpo disforme da cintura pra baixo, que daí pra cima se dividia em uma criatura e um humano como um só ser. A criatura notou que os olhos desse ser eram azuis, notou também que no braço esquerdo do humano havia uma marca, ela olhou para o vulto que confirmou, era ele. Ela então olhou para o próprio braço, não havia marcas de dente no lugar da mordida, mas sim uma marca formada por dois hexágonos um menor dentro do outro, como a marca do humano. Ela olhou rapidamente para o vulto, mas ele não estava mais lá. Ela percebeu que não estava mais presa e deu alguns passos a frente, e parou. Nessa ora lhe surgiram várias dúvidas: Quem ou o que ela era? Seria ela um humano também? O vulto era o único igual a ela ou como mostrado na figura haviam mais? E como ela iria descobrir isso? A criatura se levantou, olhou mais uma vez para a marca em seu braço, e decidiu que ia pesquisar as coisas do início. Ela deu meia volta, uivou para o sol e saiu em disparada para o seu lugar de origem...

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