segunda-feira, 11 de julho de 2011

Os Elementais - Capítulo 4

Ei leitores! Hoje trago aqui o quarto capítulo da saga "Os Elementais" e espero que, além de uma bela história, possam enxergar mensagens úteis aqui! Boa leitura.~




Paciência


A sombra gigantesca de Hórus passava repetidas vezes sobre Ethan enquanto esse procurava qualquer sinal de vida, sem sucesso, lá do alto. A visão de Ethan registrava apenas o extenso mar de terra que ele caminhava havia horas debaixo do sol escaldante.
Seus pés deviam estar queimados há muito tempo não fosse pelo medalhão que se mostrava cada vez mais útil. Agora ele também fornecia água quando a sede judiava de Ethan, fornecia energia sempre que a fome começava a aparecer, e as feridas de Ethan eram curadas em segundos, isso quando algo conseguia milagrosamente feri-lo.

O medalhão também o guiava agora com muito mais eficácia. Não lhe mostrava mais visões embaçadas e sons indiferentes, mas imagens claras de ambientes e situações das quais estavam por vir e o modo o qual Ethan chegaria a essas situações. Ele também puxava Ethan pela corrente para a direção certa sempre que necessário, mas agora ele havia guiado Ethan pra cá, um enorme e simples deserto.

Ethan era teimosamente puxado para a mesma linha sempre que tentava desviar. Não fazia nada além de caminhar há dias e sua paciência já começava a se esgotar. O ar seco, a paisagem repetitiva e o chão todo rachado já o enjoavam e Ethan começava a se perguntar se aquilo ia levá-lo a algum lugar ou era apenas um teste.

Ele olhou para frente pensando que só o que tinha a fazer agora era esperar, então abaixou a cabeça e suspirou fundo, determinado a agüentar a situação presente o tempo que fosse preciso. Foi aí que ele ouviu Hórus chamá-lo.

O pássaro desceu rápido para o ombro do dono. Ele piava alto, parecia assustado. A última vez que havia se comportado assim tinha sido pela rápida aproximação de uma tempestade violenta, semanas atrás. Ethan olhou rápido desejando não ver as carregadas nuvens de chuva vindo ligeiras, e realmente não as viu... Viu coisa pior. Uma gigantesca e densa nuvem bege avançava velozmente. Era uma tempestade de areia.

Ethan mandou o falcão de volta para os céus e quando olhou a areia já estava na metade da distância anterior. Sem ter o que fazer ele deitou e se encolheu protegendo o rosto. Através das pálpebras ele viu a luz do sol cessar ao mesmo tempo em que sentiu o tranco violento da nuvem em seu corpo. Ele teria sido arremessado se o medalhão não tivesse pulsado antes.

Ethan demorou alguns segundos pra perceber a diferença entre a força da areia e o pulsar do medalhão, e quando o fez abriu os olhos com cautela.

A areia flutuava calma, contrastando com a violência anterior, como um véu de seda que se acalmara após a ventania. Os raios de sol refletiam em suas partículas fazendo com que a areia quase toda reluzisse num espetáculo visual belíssimo.

Ethan percebeu o medalhão no ar a alguns metros de distância. Não perceberá este saindo de seu pescoço, e só reparava agora que seu ultimo pulsar não havia sido instantâneo como de costume, pois parecia fluir uma grande quantidade de energia a partir dele agora.

Aos poucos a areia ia bailando graciosa no ar, se reorganizando mais e mais, até Ethan perceber que estava formando um padrão. Com o decorrer dos minutos ela ia se solidificando lenta no que recordava alguns pilares e um grande telhado arredondado.

Sua constituição parecia mudar aos poucos também. As colunas que se formavam foram se assemelhando aos poucos com rocha sólida e apareciam aqui e ali enormes cristais amarronzados emitindo uma luz suave. O chão se formando sob os pés de Ethan adquiria aos poucos uma cor de tijolo, assim como o teto.

Após certo tempo Ethan finalmente pode ver com clareza o ambiente. Era um coberto octogonal, sem paredes, apenas oito pilares, e sua arquitetura tinha fortes traços orientais.

Hórus entrou pelo lado do local e foi direto para o ombro do dono. Não piava agora, parecia observar calmo, como se esperasse o que estava por vir.

Após o lugar finalizar sua formação, o medalhão voltou ao pescoço dele. A última porção de areia restante pairou até estar alinhada no meio de duas das colunas, e então começou a tomar a forma de uma escultura enquanto uma cortina de areia subiu lentamente em volta do lugar, e quando esta baixou, surpreendeu Ethan por estar, repentinamente, no topo de uma montanha.
Já havia sido transportado em seu encontro com o Elemental do Ar e por isso não tinha se desesperado. Ainda sim era a primeira vez que se encontrava em um lugar tão belo.
A cadeia montanhosa ao redor se estendia para todos os lados. Os inúmeros morros cobertos de floresta densa lembravam a superfície de um mar agitado e as nuvens que se moviam lentas entre os picos davam uma tranqüilidade quase que absoluta ao local.
Ethan olhou ao redor abobado até que seu olhar recaiu sobre a escultura que ele quase tinha esquecido. Ela havia acabado de se formar. Grãos de areia se desprendiam da estatua num lento fluxo que aumentava gradualmente, mas, mesmo assim, sem abandonar a lentidão e com o passar dos minutos a areia foi deixando exposta a verdadeira imagem do Elemental.
Era sem dúvida maior que seus outros três irmãos, não apenas na altura, mas também na musculatura. Sua vestimenta se limitava a uma única calça, que por mais que fosse simples, aparentava ser de um tecido extremamente resistente. Seu cabelo comprido escorregava pelo ombro numa única trança que repousava sobre as pernas cruzadas, e combinava com a modesta barbicha em seu queixo. A face tinha uma expressão indecifrável, como se fosse dotado de uma grande sabedoria e só iria compartilhá-la depois de analisar seu discípulo. Ethan, sendo um, não pode deixar de notar sua extrema semelhança com um exímio mestre marcial.

Ethan o fitou por alguns segundos esperando uma reação ou uma palavra, mas foi por perceber seu comportamento pétreo que ele simplesmente sentou em sua frente na mesma postura e aguardou.
- Aguardava-te Ethan. – Disse ele num tom extremamente calmo. – Há um bom tempo, desde que meu irmão do Ar me contou sobre sua visita.
- Então há mesmo um bom tempo aí, não é?
- Sim, mas não o suficiente para incomodar...
- Que tipo de... tarefas... você exercia enquanto esperava?
- Tarefas tão complexas que posso dizer até que aparentemente nada fazia, apenas esperava.
- Como assim? Quer dizer que fez tudo o que tinha que fazer... sem fazer nada? Parado?
- Fisicamente estático. Mas o corpo material não engloba todas as suas capacidades, apenas uma ínfima minoria delas, já deve ter percebido isso não?
Era verdade. Ethan já percebera a influencia do meio em suas energias. Depois de começar a seguir os Elementais havia começado a perceber o meio ambiente com ferramentas que ultrapassavam em muito os cinco sentidos. Chegava até a sentir o bloco coletivo de emoções das pessoas ao redor e um arrepio subia sua nuca todas as vezes que ele mentalizava algo, algo que acontecia sempre depois de um pequeno intervalo de tempo.

- Ah... sim, já tive experiências o suficiente para perceber isso. São mecanismos para me ajudar em minha missão?
- Nada que os outros seres de sua espécie também não possuam.

- Como assim? Tenho certeza de não ter ouvido sobre tais capacidades na sociedade humana atual!
- Grandes capacidades exigem grandes responsabilidades, mas mais que isso, geram grandes conseqüências quando usadas. Acho que já tem responsabilidade suficiente para achar teus irmãos que compartilham tais conhecimentos, só precisa procurar nos lugares certos.

Ethan ia abrir a boca para contra-argumentar, mas seu pensamento reflexo foi mais rápido. Era verdade que não havia ouvido sobre pessoas com conhecimento sobre tais capacidades, mas a quantidade de sociedades que havia ouvido falar era imensa, desde as mais simples e aparentemente desinteressantes até as mais complexas e secretas.

- E onde devo eu começar a procurar?
- Saberá na hora. Tudo acontece em seu devido tempo. E é este conhecimento que devo lhe transmitir.
- Tempo?
- Paciência! Ethan, venho observando sua sociedade desde seu início e percebo que acima de muitas outras, uma de suas características mais marcantes é a necessidade de ter resultados cada vez mais instantâneos. Seus semelhantes não compreendem o aspecto infinito e abundante do tempo, e tentam desesperadamente achar maneiras para fazê-lo se tornar cada vez mais insignificante sem perceber que este próprio está aí disposto a ser usado útil e fielmente. Não negue o único fluxo que se dispõe a medir as mudanças e consequentemente a vida. Se necessita deste mais rápido basta fechar os olhos e esperar que ele irá fluir com uma velocidade que você duvidaria, é tão relativo quanto qualquer outra lei que rege o universo!
Ethan se perdeu nas palavras do Elemental, tinha involuntariamente pensado em como as horas parecem voar ou se arrastar dependendo da situação, mas só agora tinha parado para tomar conta do controle que ele poderia tranquilamente ter sobre isso, e se surpreendeu em ver como era extremamente simples.
- Pare de negar o fluxo natural da existência e ensine aos seus irmãos como usufruir dele pelo exemplo. E a partir daqui, deixo-o nas mãos de nosso mestre.
- Mestre? Como assim?
- Tudo acontece em seu devido tempo...
E foi dizendo isso que o Elemental se desfez em pura areia, deixando com Ethan talvez o mais útil dos conhecimentos, além da quarta pedra em seu medalhão.

O salão se desfez junto com o Elemental numa nuvem de areia enorme e deixando Ethan novamente no meio do deserto.
Ethan havia calculado que aquele seria o último Elemental, mas estava enganado. Sua mente voou quando repassou o termo “mestre” novamente em seus pensamentos. Sabia que seus encontros estavam chegando ao fim, encontros que alguns meses atrás ele nem sonhava em conhecer. Teria sido tomado pela ansiedade e a preocupação natural da maioria dos seres humanos, mas foi fiel e seguiu seus ensinamentos.

“Tudo acontece em seu devido tempo...”

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