terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Os Elementais - Capítulo 5

Olá leitores! Devido à uma certa falta de tempo passei bastante tempo sem postar algo, mas hoje trago até vocês o último capítulo da série "Os Elementais". Humildades a parte devo dizer que eu mesmo achei este muito bom! Hahaha! Boa leitura! ^^



Equilíbrio


Era uma quase nublada noite de inverno que mostrava, entre as nuvens, uma belíssima lua cheia.
Ethan rumava decidido para um destino incerto. Guiado, como sempre, pelo medalhão, ele ia com uma sensação de segurança tremenda em seu caminhar. O medalhão agora apenas o supria por influenciar em seus pensamentos. Sem precisar materializar algo ou puxá-lo a força ele ajeitava a vida de Ethan apenas por fazê-lo, através de inspirações, se prevenir com uma simples mudança de atitude.
Hórus dormia tranqüilo em seu ombro, apesar do balanço constante.
Havia ali algumas semanas desde o encontro com o Elemental da Terra, mas Ethan parecia sentir o seguinte muito perto, mesmo que achasse improvável.
Ele havia conseguido um grupo bem grande de seguidores em sua breve jornada. Por onde passava deixava conselhos e exemplos e isso parecia ser suficiente para sensibilizar seriamente um grande número de pessoas. Sempre saia sem dizer nada, aparecendo e desaparecendo em vilas e cidades periodicamente, e ultimamente percebera certa expectativa dos outros por sua visita.
Na verdade ele era mais do que apenas um símbolo espiritual alienante. Depois de repassar seus ensinamentos Ethan viu o mundo começar a mudar num ritmo absurdo. Grandes mobilizações e revoluções que tiravam, cada vez mais, as más sementes plantadas nos grandes centros de poder e as substituíam por boas pessoa. Viu suas influências se espalharem num ritmo exponencial. Mas ainda sim algo o deixava inquieto.

Ouvira do Elemental da Terra que teria mais um encontro, desta vez com o mestre deles. Era normal que tal pensamento pairasse em sua mente deixando-o ansioso. Queria saber muitas coisas ainda e era esta sua chance de saciar sua curiosidade. Ele havia notado agora que caminhava numa belíssima rua de uma pequena cidade, mas algo estava errado...
O fato de ter notado onde se encontrava havia se dado apenas pelo fato de que sua visão começou a embaçar. Parou de caminhar e tentou inutilmente esfregar os olhos, mesmo assim sua visão deteriorou-se mais e mais até que ele não pudesse ver nada. Preocupado ele tentou piscar os olhos freneticamente e balançar a cabeça, mas agora alem de não ter sua visão, sua audição diminuía junto ao formigamento que aumentava por todo o seu corpo. Passados alguns segundos Ethan não sentia nada mais, nem seu próprio corpo...
Porém Ethan ainda “Sentia mesmo sem sentir”. Apesar da falha grave em seus sentidos sensoriais Ethan se sentia como uma livre consciência que se sustentava num fluxo infinito de energia vital, leve e eterno. Após um período de tempo, cujo ele não conseguia distinguir se haviam sido segundos ou milênios, Ethan ouviu uma voz:
- Venha Ethan! – A voz soava como duas em uníssono.
- E como eu vou?
- Queira vir, apenas isto basta.
- Mas o que? Quer...
Ele não teve tempo de terminar a fala. O fato de ouvir a instrução de “querer ir” fez a mente de Ethan assimilar tal e despertar automaticamente a vontade de ir até a voz. Apenas isto, e ele foi.
O ambiente ao redor se materializou absurdamente rápido, assim como foi a volta de seus sentidos. O alívio foi grande, ele ofegou e o pio preocupado de Hórus fez parecer com que ele não tivesse percebido nada do que havia acontecido ali. Porém Ethan estranhou mais ainda isto quando ele percebeu que estavam num ambiente totalmente diferente.
Era uma enorme área circular, sincronizada com a que havia aberto entre as nuvens. Era simples, apenas pedras espalhadas pelo chão, brancas e pretas. A iluminação do ambiente dava a entender que era amanhecer ou anoitecer, mas sem a possibilidade da certeza. Ele olhou para cima e a certeza foi menor ainda quando viu Sol e Lua juntinhos ali no centro do céu. Giravam juntos num circulo perfeito. Demorou a perceber que não estava sozinho por ficar admirando o espetáculo.
Ele olhou para trás e viu um igualmente impactante contraste. No começo pode perceber ali um anjo e um demônio, mas um novo olhar e percebeu que seu julgamento não iria caber ali, posto que pareciam ostentar personalidades idênticas.
Um homem alto, com cabelos louros e curtos que reluziam assim como seus paradoxais intensos e inexpressivos olhos azuis, em longas vestes brancas e asas mais longas ainda alvamente emplumadas, ao lado de uma mulher de vestes pretas e provocantes, cabelos negros longos e olhos castanhos igualmente intensos e inexpressivos e asas longas e draconianas, ambos belíssimos.
Começaram a andar na direção de Ethan se dirigindo a um mesmo ponto. Ethan achou que fossem trombar, mas no momento em que se tocaram pelas pontas das asas desapareceram num fluido reluzente numa textura entre líquido e gás, e ali saiu um novo ser.
Ethan não pode dizer se era homem ou mulher, não conseguiu achar diferenças em gênero nele, não conseguiu distinguir em seu olhar bondade ou maldade, não estivesse de pé, Ethan não conseguiria distinguir nem se estava vivo ou morto.
Mais alto que seus antecessores, tinha cabelos castanhos que variavam do claro para o escuro conforme o astro que passava por cima de si no trajeto do círculo. Tinha olhos cinzentos que pareciam ser mais chamativos que qualquer outra cor que pudesse estar ali.
Inesperadamente este abriu um sorriso e disse na conhecida voz dupla:
- Olá Ethan!
- Olá...
- Já era tempo! Espero-o já faz muitas eras!
- Desde quando exatamente?!
- Desde o início!
Ethan iria reforçar a pergunta, mas percebeu que não compreenderia a resposta, então fez outra:
- Desde o início... Isso quer dizer que você estava lá? Na criação?...
- HAHAHA! Criação!? Não há uma criação! Tudo sempre existiu, infinito no tempo e no espaço.
- Se sempre existiu, então como é que você estava lá no início?
- Acho que já experimentou o gosto dos paradoxos existenciais em seu prévio estado de pura consciência, não?
Ethan lembrou-se do momento em que não pode distinguir a passagem do tempo, quando estava sem sentidos, como se esta passagem dependesse de sua vontade apenas. Tendo isso pode compreender bem, mas compreender sentindo, nada que pudesse traduzir como raciocínio.
- Entendo...
- Muito bom! Enfim, hoje é seu último encontro memorável conosco Ethan, e eu vim aqui para lhe explicar o que acontece agora.
- Ok
- Mas pode fazer essa pergunta que você tem em mente antes de começar – Disse sorrindo.

- Ah... sim. Porque agir sempre escondidos? Porque não se revelar ao mundo e agir diretamente? Porque eu?
- Ok, ok... É uma boa maneira de começar aliás. A coisa acontece assim Ethan, porque a raça humana é parte de algo muito maior. Não só feita por um criador absoluto, mas parte de um sistema absoluto e universal. Seres humanos são apenas uma passagem carnal para consciências em desejo de progresso pela limitação de suas capacidades. No começo estava decidido que seria mais fácil o avanço pelo sofrimento causado pelas desigualdades e limitações, para que vocês pudessem lutar e descobrir mais e mais suas capacidades. Porém agora estão em um nível tão animalístico! Com moral evoluída há uma grande quantidade de seres humanos que tem potencial para evoluir sem precisar sofrer. Mas ainda há aqueles, infeliz maioria, que preferem fazer as coisas pelo caminho mais árduo. É aí que você se encaixa. Você é o líder daqueles que querem mudar o mundo, dando o impulso mínimo que falta pra começar com isso tudo. Entende?
- Entendo. Mas porque não fazem isso diretamente?
- Nossa evolução já passou desse estágio, já o fizemos, em outros mundos, com outras raças, agora estamos aqui apenas para auxiliar. Nos mostrar teria conseqüências severas como disputas religiosas em nosso nome e obsessão por nossa capacidade de poder. Já o fizeram antes, e tal feito direto já é suficiente, agora não precisam mais disso! Estão numa bela época Ethan, época de transição, de regeneração! Verão equilíbrio em tudo! Equilíbrio entre o egocentrismo e a compaixão que trará o bom senso, que trará a justiça. Equilíbrio entre merecimentos, que trará a igualdade. Equilíbrio entre produção e gasto que trará a regeneração ecológica do planeta, e muitos outros equilíbrios! Já passou da hora das pessoas verem que o caminho certo para o progresso é o amor, e não as tentações. E você fará muito nesse processo.

Ethan estava pasmo. Sabia das grandes revoluções ao redor do mundo, mas não tinha idéia do alcance de sua influência e dos ensinamentos dos Elementais. Vislumbrou uma sociedade diferente, num futuro próximo, uma sociedade equilibrada, justa, feliz, boa! Viu que a esperança vencia as más previsões e que a bondade fazia pouco das probabilidades que pareciam ir contra si. O que lhe parecia impossível antes se mostrou ser bem óbvio agora.
- Ah sim! Eu vou tutorá-lo em sua jornada Ethan.
- O que?
- Sim, eu, o Elemental da pura energia vou guiá-lo nos caminhos que vierem a ser tortuosos.
- Mas vai vir até mim em público?
- Não, você virá até mim! – Disse sorrindo.
- Como?
- Basta querer! Mas agora preciso ir, tenho certos afazeres. Poderemos nos encontrar novamente em breve.

- Espera. Só me explica mais uma coisa. Vocês nos ajudam a troco de que?
- HAHAHA! Aaah Ethan! Há sentimentos que valem mais apena do que todas as outras conquistas juntas, só isso já basta. Preciso ir-me. Até logo!
E com um radiante sorriso se desfez em fluido e sumiu, assim como o cenário que trouxe Ethan de volta a ruazinha de antes. Ethan olhou para Hórus, que estava atento, porém tranqüilo, em seu ombro. Então disse rindo:
- Acho que temos algumas histórias para contar, não?
E com o chiado delicado em resposta Ethan continuou sua jornada mais disposto agora do que nunca...

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