quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Um excerto sobre depressão

                  

  Hoje venho aqui falar de depressão. Sinceramente tenho mil e uma fontes pra falar sobre o assunto: tive casos em família, li livros e artigos sobre, e além disso sendo estudante de psicologia o acesso ao conteúdo é bem fácil. Seria legal contar todos os detalhes técnicos sobre a depressão, porém hoje o que eu quero contar aqui é a experiência pessoal que eu tive com este transtorno.

 Depressão não é algo fácil de lidar quando você tem. Estar depressivo é estar sem energias, nem mesmo pra recuperar energias. A sensação de constante falta é autossustentável e torturante, porém nem ânimo pra agonizar eu consegui ter nesses momentos. Obviamente, hoje eu não poderia sentir algo pela doença a não ser gratidão.

 Espere... o que? Sim, você não leu errado. Hoje depois de muito superar e titubear entre crises depressivas diagnosticadas e não diagnosticadas eu digo de bom coração que eu me construí fantasticamente ao superar toda essa tormenta emocional.

 A depressão pra mim acabou por se tornar um grande mestre. Fui surrado mil vezes: sofri, chorei, tive dores, mas só tive capacidade de entender a beneficência da coisa toda quando ao apanhar pela milésima primeira vez eu mal senti os golpes. Teve em mim o efeito das mil broncas que tomamos quando pequenos, mas que só entendemos o verdadeiro valor quando somos adultos a educar suas próprias crianças.

 Eu achava que era uma doença que me atacava e me destruía, mas hoje entendo que quem me destruía era eu mesmo, e que sentir culpa, medo, raiva e tristeza em demasia era uma reação natural do meu ser às minhas atitudes, e por dar a devida atenção a essa reação hoje eu me sinto alguém consideravelmente maior.

 Tive culpa em abandonar pessoas que eu gostava quando as via tomar um mal caminho e eu não podia acompanhar, medo de vê-las sofrer, medo de magoar as pessoas que eu amava e de que elas não pudessem me acompanhar em meus caminhos também. Sei que posso me perder na contagem das vezes que me distanciei de mim por outras pessoas, momentos, crenças e desconhecimentos e a cada pequeno passo desses eu me sentia pior. No começo você não entende o que é, o que está acontecendo e continua caminhando em espinhos até que chega uma hora em que suas pernas estão danificadas o suficiente pra não conseguir nem mais levantar.

 Esses dias vi na internet uma imagem comparativa das áreas com atividades saudáveis num cérebro normal e num cérebro depressivo, onde são poucas as áreas destacáveis no depressivo. Acho que isso resume muito da sensação de estar inerte e morrendo por dentro, de não ter mais autenticidade nas atitudes, de não conseguir mais ser funcional como era antes. O mais interessante é que as partes ativas no cérebro normal também demonstram muito da sensação de superar uma crise e se sentir novo, cheio de energias e disposição, inspirado e capaz de conquistar o mundo.

 Com todo esse mar de melancolias eu acabei aprendendo a gostar mais de mim mesmo, e é incrível o fato de aprender um costume saudável assim como última opção. Não olhava para mim, porém nos meus momentos mais baixos eu me abri a todos os tipos de ajuda e foi aí que aprendi a dar mais valor a mim mesmo. Descobri que depressão é falta de amor-próprio, é falta de autonomia em escrever a própria vida e eu venci essas faltas quando comecei a olhar mais para as minhas necessidades e vontades, depender menos do julgamento das pessoas e principalmente (e maravilhosamente) sonhar. Não aquele sonho das 3 da madrugada quando você baba no travesseiro e ronca, mas aquele sonho acordado gostoso de imaginar o futuro como você mais gostaria e não deixar nada te impedir de ir atrás disso.

 Por favor, não me entenda errado, não precisei ser rude, rancoroso, cretino ou qualquer característica danosa aos outros que caiba aí pra me dar mais valor, não é sobre se defender do que pode destruir a sua muralha, mas é tomar vergonha na cara gorda, parar de construir a muralha como uma digna mureta de madeirinhas e começar a construir uma fortaleza sustentável imponente o suficiente pra você continuar sorrindo para as pessoas que a atacam de fora, conquistá-las sem um pingo de violência e trazê-las para dentro para aprenderem a construir suas fortalezas também com toda a gentileza.

 Hoje sou grato pelas dores que tive, pelos sufocos que passei, por todos os medos que me fizeram brotar a coragem, por todas as ansiedades que me geraram a calma, por todas as tristezas que me ensinaram a sorrir e por todas as raivas que me ensinaram a aceitar a vida como ela é, e que mesmo sendo como ela é tem espaço pra tudo que desejo.

 Por isso eu termino este texto desejando a você que tem depressão que abrace suas dores pra que descubra a melhor versão de você mesmo aí dentro, pra que sorria com a força de mil sóis (tipo aqueles de verão no rio de janeiro) e que descubra dentro de si que o mesmo potencial humano para ficar triste, pode ser um ainda maior potencial para ser feliz.

Obrigado!

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