Hoje venho aqui
falar de depressão. Sinceramente tenho mil e uma fontes pra falar sobre o
assunto: tive casos em família, li livros e artigos sobre, e além disso sendo
estudante de psicologia o acesso ao conteúdo é bem fácil. Seria legal contar
todos os detalhes técnicos sobre a depressão, porém hoje o que eu quero contar
aqui é a experiência pessoal que eu tive com este transtorno.
Depressão não é
algo fácil de lidar quando você tem. Estar depressivo é estar sem energias, nem
mesmo pra recuperar energias. A sensação de constante falta é autossustentável
e torturante, porém nem ânimo pra agonizar eu consegui ter nesses momentos.
Obviamente, hoje eu não poderia sentir algo pela doença a não ser gratidão.
Espere... o que?
Sim, você não leu errado. Hoje depois de muito superar e titubear entre crises
depressivas diagnosticadas e não diagnosticadas eu digo de bom coração que eu
me construí fantasticamente ao superar toda essa tormenta emocional.
A depressão pra
mim acabou por se tornar um grande mestre. Fui surrado mil vezes: sofri,
chorei, tive dores, mas só tive capacidade de entender a beneficência da coisa
toda quando ao apanhar pela milésima primeira vez eu mal senti os golpes. Teve
em mim o efeito das mil broncas que tomamos quando pequenos, mas que só
entendemos o verdadeiro valor quando somos adultos a educar suas próprias
crianças.
Eu achava que era
uma doença que me atacava e me destruía, mas hoje entendo que quem me destruía era
eu mesmo, e que sentir culpa, medo, raiva e tristeza em demasia era uma reação
natural do meu ser às minhas atitudes, e por dar a devida atenção a essa reação
hoje eu me sinto alguém consideravelmente maior.
Tive culpa em
abandonar pessoas que eu gostava quando as via tomar um mal caminho e eu não
podia acompanhar, medo de vê-las sofrer, medo de magoar as pessoas que eu amava
e de que elas não pudessem me acompanhar em meus caminhos também. Sei que posso
me perder na contagem das vezes que me distanciei de mim por outras pessoas,
momentos, crenças e desconhecimentos e a cada pequeno passo desses eu me sentia
pior. No começo você não entende o que é, o que está acontecendo e continua
caminhando em espinhos até que chega uma hora em que suas pernas estão
danificadas o suficiente pra não conseguir nem mais levantar.
Esses dias vi na
internet uma imagem comparativa das áreas com atividades saudáveis num cérebro
normal e num cérebro depressivo, onde são poucas as áreas destacáveis no
depressivo. Acho que isso resume muito da sensação de estar inerte e morrendo
por dentro, de não ter mais autenticidade nas atitudes, de não conseguir mais
ser funcional como era antes. O mais interessante é que as partes ativas no
cérebro normal também demonstram muito da sensação de superar uma crise e se
sentir novo, cheio de energias e disposição, inspirado e capaz de conquistar o
mundo.
Com todo esse mar
de melancolias eu acabei aprendendo a gostar mais de mim mesmo, e é incrível o
fato de aprender um costume saudável assim como última opção. Não olhava para
mim, porém nos meus momentos mais baixos eu me abri a todos os tipos de ajuda e
foi aí que aprendi a dar mais valor a mim mesmo. Descobri que depressão é falta
de amor-próprio, é falta de autonomia em escrever a própria vida e eu venci
essas faltas quando comecei a olhar mais para as minhas necessidades e vontades,
depender menos do julgamento das pessoas e principalmente (e maravilhosamente)
sonhar. Não aquele sonho das 3 da madrugada quando você baba no travesseiro e
ronca, mas aquele sonho acordado gostoso de imaginar o futuro como você mais
gostaria e não deixar nada te impedir de ir atrás disso.
Por favor, não me
entenda errado, não precisei ser rude, rancoroso, cretino ou qualquer característica
danosa aos outros que caiba aí pra me dar mais valor, não é sobre se defender
do que pode destruir a sua muralha, mas é tomar vergonha na cara gorda, parar
de construir a muralha como uma digna mureta de madeirinhas e começar a
construir uma fortaleza sustentável imponente o suficiente pra você continuar
sorrindo para as pessoas que a atacam de fora, conquistá-las sem um pingo de
violência e trazê-las para dentro para aprenderem a construir suas fortalezas
também com toda a gentileza.
Hoje sou grato
pelas dores que tive, pelos sufocos que passei, por todos os medos que me
fizeram brotar a coragem, por todas as ansiedades que me geraram a calma, por
todas as tristezas que me ensinaram a sorrir e por todas as raivas que me
ensinaram a aceitar a vida como ela é, e que mesmo sendo como ela é tem espaço
pra tudo que desejo.
Por isso eu
termino este texto desejando a você que tem depressão que abrace suas dores pra
que descubra a melhor versão de você mesmo aí dentro, pra que sorria com a
força de mil sóis (tipo aqueles de verão no rio de janeiro) e que descubra
dentro de si que o mesmo potencial humano para ficar triste, pode ser um ainda
maior potencial para ser feliz.
Obrigado!
Obrigado!
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